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Foto do escritorMariana Pinto e Costa

Relatório de Sustentabilidade para Empresas

No mundo dos negócios, está a ocorrer uma mudança significativa. As empresas já não se podem dar ao luxo de estar apenas focadas nos lucros. A mudança está em curso, e cada vez mais os clientes, fornecedores, financiadores, parceiros e a regulamentação, procuram verificar e validar o compromisso das organizações com o desenvolvimento sustentável e os seus pilares.


Neste cenário de maior consciencialização sobre a importância do desenvolvimento sustentável, onde este deixa cada vez mais de ser uma opção, para a ser a única opção possível, os relatórios de sustentabilidade surgem como uma ferramenta estratégica, que permitem avaliar e assegurar a evolução dos negócios e o seu impacto ao nível social, ambiental e económico.


Estes tornam-se assim uma ferramenta cada vez mais indispensável para as organizações que efetivamente procuram maximizar o valor e a evolução que promovem na sociedade.


“Um relatório de sustentabilidade é um documento elaborado pelas empresas e organizações para apresentar as suas iniciativas de compromisso com a agenda ESG (Environmental, Social and Governance), bem como os seus impactos a nível ambiental, social e económico. É considerado ainda uma maneira transparente de comunicar com o mercado e o público geral.”

As primeiras diretrizes para a produção dos Relatórios de Sustentabilidade foram criadas pela GRI (Global Reporting Initiative), uma organização não governamental, com sede em Amesterdão, Holanda. Entretanto, existem outras organizações que divulgam padrões para a elaboração de um relatório de sustentabilidade, tais como a CDSB (Climate Disclosure Standards Board), o IIRC (International Integrated Reporting Council), a SASB (Sustainability Accounting Standards Board), dentre outras.


Estes documentos desempenham um papel fundamental na condução de mudanças positivas nos negócios, no meio ambiente e na sociedade como um todo, dado que evidenciam o compromisso das organizações em preservar a natureza, promover o bem-estar social e a governança ética.


Manifestação sobre a crise climática

Neste artigo, pretendemos clarificar e abordar questões relacionadas com os benefícios, transparência e legislação dos relatórios de sustentabilidade, indicando alguns exemplos de empresas já comprometidas em relatar as suas atividades. Assim, de modo a facilitar o entendimento, os tópicos que iremos apresentar são:



Benefícios dos Relatórios de Sustentabilidade para as Empresas


Os relatórios de sustentabilidade representam uma valiosa ferramenta para as empresas que estão comprometidas em comunicar de forma transparente os seus impactos (social, ambiental e económico). Além de fortalecer a credibilidade perante os diversos stakeholders, eles promovem significativamente a reputação e uma imagem corporativa positiva.


Importa referir que os relatórios de sustentabilidade também são essenciais para a comunicação interna de uma empresa, dado que fortalecem a cultura empresarial, gerando maior credibilidade e transparência, garantem uma maior lealdade de todos os colaboradores, e atraem talentos com foco num trabalho com propósito.


As empresas dedicadas à elaboração de relatórios de sustentabilidade desfrutam de uma gama adicional de benefícios, tais como:


  • Aumento da competitividade e redução de custos;

  • Mitigação e melhor gestão dos riscos;

  • Identificação das oportunidades de negócios;

  • Melhoria dos processos e estratégias da empresa;

  • Facilitação da comunicação da empresa com os stakeholders;

  • Acompanhamento dos resultados de maneira mais eficiente;

  • Atração de novos clientes e investidores;

  • Contribuição para o desenvolvimento sustentável.


🔸Se tem alguma dúvida sobre a sustentabilidade, não deixe de ler o nosso artigo: O que é Desenvolvimento Sustentável?


Transparência e Legislação Vigente


A transparência é um aspeto fundamental nos relatórios de sustentabilidade e, por isso, as empresas que divulgam informações detalhadas, precisas e fidedignas nestes documentos, geram maior confiança entre os seus públicos internos e externos.


Além disso, a transparência permite combater o greenwashing evitando que as empresas façam declarações enganosas sobre as suas práticas sustentáveis, de modo a parecer mais sustentável do que realmente são.


Com o crescente foco global na sustentabilidade e na responsabilidade corporativa, novos requisitos de divulgação estão a ser estabelecidos de forma a garantir uma maior transparência nas práticas empresariais.


A Diretiva CSRD (Corporate Sustainability Reporting Directive) é um exemplo notório destes esforços de regulamentação, impondo as empresas da União Europeia a obrigação de relatar informações sobre as suas práticas, processos e atividades em prol do desenvolvimento sustentável.


CSRD Timeline

“The (CSRD) will help drive the transition to a sustainable economic system built on innovation and investment opportunities.”

(Mairead McGuinness, European Commissioner for Financial Services, Financial Stability and Capital Markets Union. June 22, 2022)


Esta iniciativa procura estabelecer padrões mais rigorosos para o reporting de sustentabilidade, incentivando as empresas a fornecerem informações detalhadas sobre as normas ESRS (Environmental, Social, and Governance Reporting Standards).


Com a substituição da Diretiva de Divulgação de Informação Não Financeira (NFRD – Non Financial Reporting Directive) pela introdução gradual da Diretiva de Relato de Sustentabilidade Empresarial (CSRD), todas as pequenas e médias empresas com atividade na União Europeia terão de reportar o seu risco e impacto social, ambiental e de governança.”

A EFRAG (European Financial Reporting Advisory Group), organização responsável pelas práticas financeiras e de contabilidade na União Europeia, definiu um conjunto de 12 normas no âmbito da Diretiva CSRD, que estão agrupadas em 2 standards gerais e 10 standards temáticos:


  1. Normas Gerais: Requisitos Gerais; Divulgações Gerais.

  2. Ambiente: Alterações climáticas; Poluição; Recursos hídricos e marinhos; Biodiversidade e ecossistemas; Uso de recursos e economia circular.

  3. Social: Mão de obra própria; Trabalhadores na cadeia de valor; Comunidades afetadas; Consumidores e utilizadores finais.

  4. Governance: Conduta empresarial.


Estas normas pretendem não apenas garantir uma maior consistências nos relatórios divulgados pelas empresas, mas também facilitar a comparação entre as empresas, permitindo que os stakeholders possam avaliar melhor o desempenho sustentável das diversas organizações.


ESRS Standards

Fonte: PWC Portugal


Segundo o GS1 Portugal:


“A Diretiva de Relato de Sustentabilidade Empresarial (CSRD – Corporate Sustainability Reporting Directive), em vigor desde 5 de janeiro de 2023, amplia o universo de empresas obrigadas a reportar o risco e impacto em sustentabilidade, conforme previsto no Pacto Ecológico Europeu e no Plano de Ação da União Europeia em matéria de Financiamento Sustentável.”

Relativamente à abrangência destas novas diretrizes: “Quase 50.000 empresas da UE serão abrangidas por esta Diretiva, em comparação com as 11.600 empresas atualmente sujeitas a estes requisitos.” (Diretiva de Reporte Corporativo de Sustentabilidade, PwC Portugal)



Relatório de Sustentabilidade X Relatório ESG


Embora os relatórios de sustentabilidade e de ESG sejam semelhantes, existem algumas diferenças fundamentais entre eles.


Regra geral, o relatório de sustentabilidade fornece uma visão abrangente das práticas de uma empresa relacionadas com os impactes ambientais, sociais e financeiros, enquanto o relatório de ESG foca-se em três aspetos específicos: ambiental, social e governança.


Segundo o blog da EKA Consultoria, os relatórios de sustentabilidade incorporam geralmente dados científicos e vários indicadores, como a pegada de carbono, o consumo de energia e o consumo de água, sendo utilizados como ferramentas de comunicação das empresas.


Já os relatórios ESG ajudam as empresas a tomar decisões quanto aos seus investimentos e, apesar de utilizar indicadores semelhantes aos dos relatórios de sustentabilidade, fazem o uso de outras métricas como a igualdade de género, os benefícios para os trabalhadores, promoção de uma postura sustentável entre os stakeholders, dentre outros.


Para Igor Pinheiro, Diretor na Îandére Engenharia Sustentável, os relatórios de sustentabilidade são mais indicados para grandes empresas, enquanto os relatórios de ESG para negócios mais pequenos.


“Geralmente, um relatório de sustentabilidade abrange um espectro mais amplo de questões relacionadas à responsabilidade corporativa, como políticas ambientais, práticas de gestão de recursos naturais, impacto social na comunidade e desempenho econômico. (...) O Relatório ESG se concentra especificamente em três categorias: ambiental, social e de governança. Ele coloca ênfase em métricas e informações específicas relacionadas a essas três áreas, como emissões de carbono (ambiental), diversidade na força de trabalho (social) e estrutura de governança corporativa (governança).”


Como elaborar um Relatório de Sustentabilidade?


Num contexto empresarial cada vez mais competitivo e consciente da necessidade de práticas sustentáveis, a elaboração de um relatório de sustentabilidade torna-se não apenas uma peça de comunicação importante, mas uma ferramenta essencial para as empresas que procuram alinhar os seus objetivos, valores e práticas com as expectativas dos diversos stakeholders e da sociedade no geral.


Geralmente, os relatórios de sustentabilidade são elaborados anualmente, destacando os principais pontos de progresso, desafios e metas. Esta regularidade proporciona consistência na comunicação e permite uma avaliação contínua do desempenho da empresa.


Este documento público não só reflete a transparência da organização, mas também destaca o seu compromisso e responsabilidade social e ambiental. Deste modo, a estrutura do relatório deve refletir a sua natureza abrangente, contribuindo para a imagem holística das atividades da empresa. Secções dedicadas a questões ambientais, sociais e financeiras são fundamentais. Além disso, deve-se destacar algumas iniciativas específicas, metas alcançadas e desafios enfrentados.


Um bom processo de relato, seja ele mais extenso ou resumido a uma publicação – e independentemente da metodologia adotada –, deve ser focado nos temas mais relevantes para o negócio e para as suas partes interessadas. Esse cruzamento de prioridades constitui a matriz de materialidade da organização.”

(Guia de Comunicação e Sustentabilidade, Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável - CEBDS, 2020)


De modo a facilitar a elaboração de um relatório de sustentabilidade, destacamos abaixo alguns pontos que consideramos essenciais.


1. Acessibilidade na Comunicação


Antes de começar, é muito importante pensar na acessibilidade do relatório, dado que ele deve ser acessível a todos os públicos, desde colaboradores, investidores, fornecedores, clientes e comunidade em geral. Por isso, para garantir uma comunicação eficaz com todas as partes interessadas, os pilares essenciais são a clareza e a organização. Portanto, deve-se evitar utilizar jargões técnicos excessivos, apresentando os dados e as informações de maneira compreensível. Para facilitar o entendimento, pode-se adicionar um glossário com os termos técnicos utilizados.


2. Proposta e Mensagem


A proposta do relatório deve refletir não apenas os compromissos da empresa, mas também como ela pretende envolver e informar o seu público de interesse, relativamente aos temas da gestão e dos objetivos do desenvolvimento sustentável do seu negócio. Por sua vez, a mensagem deve ser envolvente e inspiradora, motivando não apenas a compreensão, mas também a adoção de práticas sustentáveis.


3. Informações da Empresa


Antes de aprofundarmos nas informações e dados do relatório em questão, é importante fazer uma descrição abrangente da empresa, incluindo a visão, missão, valores, produtos, serviços oferecidos e outros elementos que considere necessário. Ademais, deve-se estabelecer as bases para compreender como a sustentabilidade se integra à identidade do negócio.


4. Contexto de Mercado


Incluir o estado da arte da sustentabilidade no mercado em que a empresa atua é fundamental para contextualizar a relevância das suas ações e os desafios que ela enfrenta. Visando oferecer um panorama abrangente, deve-se incluir dados atualizados sobre as tendências do mercado, regulamentações específicas, expectativas, etc.


5. Objetivos do Relatório


O objetivo do relatório vai muito além da mera divulgação de informações. Ele deve articular os objetivos da empresa em termos dos indicadores de sustentabilidade, destacando algumas metas específicas e demonstrando o impacto positivo das suas ações.


6. Análise da Materialidade


Deve-se priorizar a abordagem da “Dupla Materialidade”, que inclui a materialidade financeira e a materialidade de impacto. Para uma abordagem mais holística na avaliação de riscos e oportunidades, pode-se elaborar uma matriz de materialidade. Isto significa que a empresa não apenas examina os seus próprios impactos, mas também os fatores externos que podem influenciar a sua sustentabilidade a longo prazo.


Dupla Materialidade

7. Resultados Obtidos


Recomenda-se apresentar os resultados e progressos obtidos nas diferentes áreas, bem como comunicar as ações específicas da empresa durante o período, desde reduções de emissões de carbono até as iniciativas sociais. Isto fortalece o compromisso sustentável da organização e reforça a importância da prestação de contas (Accountability).


8. Recursos Visuais


A inclusão de tabelas, infográficos e imagens nos relatórios de sustentabilidade simplifica a compreensão dos dados. Além disso, é importante escolher um design e lettering adequados de forma a melhorar a legibilidade do documento e a experiência do leitor.


9. Revisão e Divulgação


Após a conclusão e revisão final do relatório, é altura de promover a sua divulgação. Sugerimos que a empresa partilhe a publicação através dos canais de comunicação mais adequados, como as redes sociais, e inclua o relatório no site oficial, realçando-o na secção de publicações para aumentar a sua visibilidade. Em determinadas situações, a produção de um vídeo curto sobre o relatório pode revelar-se uma estratégia eficaz para comunicar de forma impactante e envolvente. Este passo não apenas reforça a transparência da empresa, mas também amplia a divulgação das informações, promovendo uma comunicação mais eficaz com todas as partes interessadas.


Veja abaixo um exemplo de vídeo "IKEA Sustainability Report FY22 highlights":



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Exemplos de Relatórios de Sustentabilidade para Consulta Pública


Grandes empresas já comprometidas com a transição circular e a sustentabilidade divulgam anualmente os seus relatórios de sustentabilidade. Segue abaixo alguns exemplos mais recentes:


_____________


Autoras:

Daniela Diana (Marketing e Comunicação)

Mariana Pinto e Costa (Co-fundadora da BeeCircular)

Contacte-nos: hello@beecircular.org


Fontes Consultadas:

Guia de Comunicação e Sustentabilidade (2020) | Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). https://cebds.org/wp-content/uploads/2023/06/CEBDS_GuiaSustentabilidade_DIAGRAMACAO_REV2022.pdf

Guidelines on reporting climate-related information (2019) | European Commission. https://ec.europa.eu/finance/docs/policy/190618-climate-related-information-reporting-guidelines_en.pdf

IKEA (2023, 14 de fevereiro). IKEA Sustainability Report FY22 highlights [Vídeo]. YouTube. https://www.youtube.com/watch?v=Zi-u_YgBGvw

IKEA Sustainability Report FY22 highlights. IKEA Global. | IKEA. https://www.ikea.com/global/en/our-business/people-planet/sustainability-report-highlights/

Normas de Relato de Sustentabilidade da EU (ESRS). (2023, janeiro) | PWC Portugal. https://www.pwc.pt/pt/sustentabilidade/docs/pwc-sustentabilidade-normas-relato.pdf

Parte de Nós - Relatório de Sustentabilidade 2022 | The Navigator Company. http://thenavigatorcompany.com/external/relatorio-de-contas-2022/docs/Navigator_RS22_Digital_Final_PT.pdf

Pinheiro, I. (2023, 17 de setembro). Qual a diferença entre Relatório ESG e Relatório de Sustentabilidade? | Îandére Engenharia Sustentável. https://iandere.com/2023/09/17/qual-a-diferenca-entre-relatorio-esg-e-relatorio-de-sustentabilidade/

Relatório de Sustentabilidade 2021| EDP. https://www.edp.com/pt-pt/relatorio-sustentabilidade-2021

Sustainability reporting vs ESG reporting: How different are they? | Eka. https://eka1.com/blog/sustainability-reporting-vs-esg-reporting-how-different-are-they/

Sustentabilidade | Responsabilidade Social | Grupo Nabeiro. https://gruponabeiro.com/sustentabilidade

The Corporate Sustainability Reporting Directive (CSRD). Certification | Bureau Veritas. https://certification.bureauveritas.com/corporate-sustainability-reporting-directive-csrd

Relatórios de Sustentabilidade | GS1. https://gs1pt.org/relatorios-de-sustentabilidade/

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