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Foto do escritorMariana Pinto e Costa

Economia Circular - Tudo aquilo que sempre quiseste saber

Atualizado: 22 de mar. de 2023


A Economia Circular tem como ambição tornar o “lixo” um conceito do passado, propondo para o efeito a procura de soluções que mantenham os recursos a circular na economia, perpetuando a sua utilização até ao limite da sua capacidade.


Índice do Artigo:


O que é Economia Circular?


Comecemos então pelo início: muitos falam de Economia Circular, mas nem todos compreendem de facto a sua verdadeira proposta.


Infelizmente não é incomum vermos explicações sobre o conceito deste modelo, que são incompletas, redutoras e imprecisas; mas a BeeCircular, enquanto "polinizadora" 100% comprometida com este novo paradigma, está aqui para te ajudar a saberes tudo o que precisas saber.


A Economia Circular é um modelo holístico “resiliente e restaurador por intenção”, onde à semelhança do que acontece na natureza, “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” (Lei de Lavoisier).


Na Economia circular não existem resíduos. Existem, sim, recursos valiosos (ou nutrientes como são chamados neste modelo), e como tal, o valor que estes geram para a economia deve ser potenciado, assegurando que se mantêm a circular na economia pelo maior período de tempo (1).


Segundo a organização Holandesa Circle Economy:


A economia circular é um sistema económico, onde os resíduos são eliminados e tudo é utilizado no seu máximo valor, pelo maior tempo possível, com o foco na regeneração dos sistemas naturais. O conceito de circularidade imita a natureza, onde não existe desperdício: todos os materiais têm valor e são usados ​​para sustentar a vida de várias formas.” (2)

Para saber mais sobre este modelo, assista o vídeo abaixo do evento Circular Cities Week, que organizámos no âmbito do CEC Almada:



As vantagens e os benefícios da Economia Circular


A adoção de um modelo circular possui inúmeras vantagens para as pessoas, o meio ambiente e as organizações. Alguns dos benefícios são:


  • Minimiza a pressão exercida sobre o planeta;

  • Restaura o capital natural e regenera os sistemas naturais;

  • Mitiga as causas associadas às alterações climáticas;

  • Foca-se em "eliminar a poluição", contribuindo diretamente para a neutralidade carbónica;

  • Assegura uma relação de simbiose com os sistemas naturais, celebrando a diversidade;

  • Potencia o valor gerado pelos materiais, recursos e produtos;

  • Maximiza a reutilização dos recursos;

  • Promove a consciencialização ambiental e um consumo sustentável;

  • Melhora a qualidade de vida da população;

  • Impulsiona a evolução económica para o sistema mais equilibrado e justo;

  • Estimula a inovação ao longo de toda a cadeia de valor;

  • Gera novas oportunidades e mais empregos;

  • Desenvolve novos modelos de negócios;

  • Aumenta a competitividade e reduz custos;

  • Reduz as perdas sistémicas e as externalidades geradas pela atuação humana.


Os 3 princípios da Economia Circular


Como referido, a Economia Circular propõe um novo paradigma, promovendo uma mudança estrutural no atual sistema económico. Este é um modelo que, por intenção e design, promove a contínua regeneração dos sistemas naturais e restaura os recursos finitos, através de estratégias que asseguram que os materiais e produtos geram o maior valor possível para todas as partes, pelo maior tempo possível.

Modelo da Economia Circular
O Modelo da Economia Circular

Este novo modelo está assente em 3 princípios:

  1. Eliminar o lixo e a poluição: utilização eficaz dos recursos finitos, equilibrando a utilização dos recursos renováveis através do desenvolvimento de sistemas eficazes que criem valor para todo o sistema e eliminem ou minimizem as externalidades geradas.

  2. Potenciar a utilidade dos produtos, componentes e materiais: manter os materiais e produtos a circular na economia pelo maior período de tempo e até o limite da sua capacidade, gerando mais valor para todas as partes.

  3. Preservar o capital natural: promover a regeneração dos sistemas naturais e da sociedade, por meio de uma utilização eficaz dos recursos finitos e equilibrando a utilização dos recursos renováveis.

Quer fazer parte desta revolução e começar a aplicar a economia circular na tua organização, tornando-a mais inovadora, competitiva e regenerativa? Nós podemos ajudar! Explore as nossas SOLUÇÕES. 


As principais características da Economia Circular


No processo de transição para a Economia Circular, existem alguns pontos-chave que devem ser tidos em linha de conta e que estão relacionados com os 3 princípios da Economia Circular, dos quais sublinhamos:


1) Não ao lixo (Design out waste)

Neste modelo, o lixo torna-se crescentemente um conceito obsoleto. Os produtos são pensados de modo a serem de elevada qualidade, durabilidade e de fácil desmontagem, assegurando, desta forma, uma fácil e económica reparação, modernização ou até o aproveitamento dos seus componentes para novos fins e indústrias.


2) Distinção entre “consumíveis e componentes duradouros”

Como se pode verificar no diagrama de borboleta (imagem abaixo), são introduzidos estes dois novos conceitos que visam distinguir:

  • os nutrientes biológicos (ou produtos consumíveis), que sendo constituídos por organismos vivos, são biodegradáveis e podem ser restituídos de forma segura à biosfera, ou utilizados num sistema de cascata para múltiplos fins (ex.: papel, madeira, material de construção, têxteis, etc.);

  • os nutrientes técnicos (ou componentes duradouros) como o plástico e metal, que podem ser reutilizados até ao máximo da sua capacidade.

A divisão entre ciclos biológicos e técnicos, tem como objetivo assegurar que cada material é mantido no ciclo adequado.


Quanto mais próximo o processo de restituição do produto estiver do consumidor/utilizador, mais a integridade das matérias é garantida e menor é o custo do processo (exemplo: reparação vs. reciclagem).

Diagrama de Borboleta na Economia Circular
Diagrama de Borboleta reproduzido a partir do original desenvolvido pela Ellen MacArthur Foundation

A escolha de um determinado nutriente deve ter em conta a durabilidade que o mesmo terá, enquanto produto final.


No caso de, por exemplo, uma embalagem, que pode ter uma utilização muito reduzida, os nutrientes técnicos podem ser desadequados, sendo mais seguro a utilização de componentes biológicos.


Há ainda a necessidade de pensar "fora da caixa", implementando sistemas e modelos que permitam que as embalagens sejam reutilizadas, sendo que, neste caso, a escolha de nutrientes do ciclo técnico (preferencialmente de um único material), passa a ser uma vantagem, dada a sua durabilidade.


Compreenda melhor sobre os nutrientes biológicos e técnicos na entrevista com a Ellen McArthur:


Se quiser saber mais sobre o Diagrama de Borboleta, veja também os nossos artigos:


3) Fontes de energia verde e uso inteligente dos recursos hídricos


De modo a agregar valor para o sistema circular, as fontes de energia utilizadas nos vários processos devem ser crescentemente de fontes renováveis, permitindo, assim, a redução da dependência dos combustíveis fósseis e o impacto para o ambiente e saúde pública.


Naturalmente, sendo a água um dos recursos mais importantes para a existência de vida, procurar soluções que garantam o uso inteligente dos recursos hídricos, deve ser uma prioridade para as organizações.


A adoção de uma estratégia circular promove inúmeras vantagens para todas as partes envolvidas, em particular para as organizações que a implementam, possibilitando poupanças significativas e abrindo portas para novos modelos de negócios e, consequentemente, novas fontes de rendimento.


Com a adoção deste modelo procura-se gerar valor para todas as partes envolvidas, ou invés de se criar valor apenas para uma parte do sistema. Assim, cada vez mais as organizações devem procurar fazer bem em vez de fazerem menos mal (eficácia vs. eficiência), começando a criar verdadeiro valor para as sociedades e economia. (2)

Na União Europeia, esta transição já se encontra em curso, sendo expectáveis elevados benefícios do ponto vista económico, social e ambiental.


Estudos indicam que a transição para o modelo da Economia Circular aliada a revolução tecnológica poderá gerar até 2030 um valor adicional superior a 1,8 biliões de euros para a economia europeia e uma redução de cerca de 48% nas emissões de CO₂ (4).


Quais os desafios do Modelo da Economia Circular?


Importa referir que a transição para a economia circular ainda não é uma realidade concretizada no nosso mundo, nem mesmo no nosso país. Existem muitos desafios que precisam ser superados, tais como:


  • Falta de regulamentação e de harmonização na legislação;

  • Falta de procura / aderência ao modelo;

  • Complexidade;

  • Baixo retorno no curto prazo;

  • Falta de harmonização nos indicadores e metodologias de avaliação de impacto;

  • Falta de serviços conectores e infraestruturas;

  • Falta de escala;

  • Falta de diálogo.


No vídeo abaixo “The Circular Economy: Rethinking Progress”, produzido pela Ellen McArthur Foundation, é possível compreender melhor o modelo da Economia Circular e os seus desafios:



Economia Linear versus Economia Circular


Ilustração entre os modelos da economia linear, de reciclagem e circular
Modelos linear, reciclagem e circular - Reproduzido a partir do original desenvolvido pela Plan C

A Economia linear é um modelo que está em curso desde a revolução industrial, sendo imune a capacidade de regeneração da Terra.


Neste modelo, o fim de vida de um produto, significa o fim do seu potencial económico, investimento, esforço, trabalho e consequências negativas geradas.


Já a Economia Circular é inspirada nos ciclos da natureza, onde não existe lixo, tudo é aproveitado de forma cíclica e contínua.


Este modelo nasce precisamente da vontade de transferir a perfeição de como os ciclos ocorrem na natureza, para as nossas sociedades e organizações.


Para entender melhor as diferenças entre estes dois modelos, veja a tabela abaixo:


Diferenças entre Economia Linear e Circular - Fonte: Circular Economy: An Introduction (Delft and EMF)


A Economia Circular e os Modelos de Negócio


Recorrendo à adoção de modelos de negócio inovadores, numa lógica da Economia Circular, os produtos são pensados de modo a potenciar a sua utilidade e tempo de vida útil, através do Ecodesign e da Ecoinovação.


"A Economia Circular propõe através do Ecodesign e da Ecoinovação uma postura “resiliente e regenerativa (1)”.

Portanto, devem ser favorecidos modelos de negócio que otimizem a utilização dos recursos, sendo, desta forma, injetados na economia de forma contínua e cíclica. É incentivado o uso de energias renováveis e a eliminação de componentes tóxicos que, para além de serem prejudiciais a vários níveis, limitam o potencial de reutilização dos materiais.


Economia circular nos negócios

Desta maneira, consegue-se reduzir de forma sistemática e contínua a dependência das matérias-primas extraídas da natureza, o desperdício de recursos com valor económico, a produção de resíduos e a geração de externalidades negativas (2).


Assim, para ter uma maior vantagem competitiva, são valorizadas as características como qualidade, design modelar, durabilidade, fácil reparação, adaptabilidade e circularidade, sendo exemplos os modelos: “Produto enquanto Serviço”, “Economia de Partilha” e a “Venda de Usados”. (3)


Em resumo, os modelos de negócio com foco na circularidade, devem apresentar características como:

Gostaria de saber mais sobre os modelos de negócio que potenciam a transição para a Economia Circular? Junte-se a comunidade BeeCircular e receba gratuitamente o nosso e-book.

A Economia Circular em Portugal


Em 2015, a Comissão Europeia propôs o primeiro “Plano de ação para a Economia Circular” (6) para acelerar a implementação deste modelo na Europa.


Com o objetivo de apoiar o “Pacto Ecológico Europeu” (7), em 2020 foi criado um novo Plano de Ação para a Economia Circular “Para uma Europa mais limpa e competitiva” (8), com vistas a atingir a neutralidade carbónica até 2050, bem como melhorar a gestão de resíduos e reduzir o consumo de matérias-primas.


A proposta do Plano de Ação para a Economia Circular em Portugal (PAEC-2017) reforça a importância da transição circular do país, através de um conjunto de estratégias e ações que priorizem o crescimento económico, a criação de empregos, a justiça social, e o reaproveitamento e valorização dos resíduos que já estão a circular na economia. (9)


Este plano engloba um conjunto de sete ações que supostamente deveriam ser alcançadas até 2020, a saber:

  • Ação 1 – Desenhar, Reparar, Reutilizar: uma responsabilidade alargada do produtor

  • Ação 2 – Incentivar um mercado circular

  • Ação 3 – Educar para a economia circular

  • Ação 4 – Alimentar sem sobrar: produção sustentável para um consumo sustentável

  • Ação 5 – Nova vida aos resíduos

  • Ação 6 – Regenerar recursos: água e nutrientes

  • Ação 7 – Investigar e inovar para uma economia circular


No entanto, segundo o Balanço das Atividades do PAEC (10) e dos Resultados Alcançados entre 2018 e 2020 (publicado em 2022), as ações que atingiram resultados mais satisfatórios através do cumprimento de todos os objetivos propostos foram somente as ações número 3 (Educar para a economia circular), 6 (Regenerar recursos: água e nutrientes), e 7 (Investigar e inovar para uma economia circular).


Dentre todas as ações propostas, aquela que ficou mais aquém do esperado foi a Ação 5 (Nova vida aos resíduos), mais precisamente nos seguintes objetivos: Aumentar a introdução de matérias-primas secundárias na economia; Promover a redução da extração de recursos naturais; e Diminuir a produção de resíduos.


Para que este cenário se mostre cada vez mais alinhado com a proposta da economia circular, é dever de todos - governos, autarquias, organizações, sociedade civil, etc. - procurar soluções mais ecológicas e regenerativas.


Para saber mais sobre a Economia Circular e alguns dos desafios relacionados com a transição para este modelo, veja a nossa participação na tertúlia " Juntos Somos Coimbra - Ambiente e Sustentabilidade" (2021).




________________

Autoria: Mariana Pinto e Costa e Daniela Diana Contacte-nos: hello@beecircular.org


Fontes:

(1) Ellen MacArthur Foundation, Towards The Circular Economy: Economic and business rationale for accelerated transition, EMF, London, 2013


(2) O que é a Economia Circular | Circle Economy https://www.circle-economy.com/circular-economy/what-is-the-circular-economy

(3) European Environment Agency, Circular by design: Products in the circular economy, EEA, Luxembourg, 2017

(4) Ellen MacArthur Foundation, Towards The Circular Economy: Accelerating the scale-up across global supply chains, EMF, London, 2014

(5) Ellen MacArthur Foundation and McKinsey Center for Business and Environment, 2015, Growth within: A circular economy vision for a competitive Europe, EMF and McKinsey Center for Business and Environment, Isle of Wight.


(6) EUR-Lex - 52015DC0614 - EN - EUR-Lex. (s.d.). EUR-Lex — Access to European Union law — choose your language. https://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/?uri=CELEX:52015DC0614


(7) Pacto Ecológico Europeu. (s.d.). Comissão Europeia - European Commission. https://ec.europa.eu/info/publications/delivering-european-green-deal_pt


(8) Press corner. (s.d.). European Commission - European Commission. https://ec.europa.eu/commission/presscorner/detail/pt/ip_20_420


(9) Plano de Ação para a Economia Circular (PAEC) | Governo de Portugal - Ministério do Meio Ambiente, 2017


(10) Balanço das Atividades do PAEC e dos resultados alcançados entre 2018 e 2020. Coordenação: Agência Portuguesa do Ambiente e Direção-Geral das Atividades Económicas (Edição 2022 - Versão 2)

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