O Diagrama de Borboleta (Butterfly diagram), também chamado "Diagrama Sistémico", é uma poderosa ferramenta que nos ajuda a compreender a aplicação do modelo da Economia Circular na prática.
Numa única imagem, consegue-se ter uma visão holística dos principais pressupostos do modelo, as alterações propostas e as várias soluções que facilitam a transição.
Este diagrama sistémico, que teve como inspiração o modelo dos autores do livro Cradle to Cradle (C2C), foi desenvolvido pela Ellen MacArthur Foundation, sendo apresentado como ferramenta para explicação do modelo, em vários dos relatórios, apresentações e outras atividades dinamizadas por esta entidade.
Princípios orientadores para a Transição Circular
Existem 3 princípios orientadores que devem ser considerados no processo de transição para a Economia Circular, que iremos explicar em maior detalhe neste artigo:
“Preservar o capital natural”, promovendo uma utilização eficaz dos recursos finitos e equilibrando a utilização dos recursos renováveis (Imagem 1 – Topo).
Potenciar a utilidade dos produtos, componentes e materiais, mantendo-os a circular na Economia até ao limite da capacidade (Imagem 1 – Meio).
Desenvolver sistemas eficazes que minimizem o volume de resíduos que terminam em aterro e as externalidades negativas (Imagem 1 – Base).
1. “Preservar o capital natural”
No topo do diagrama de borboleta, conseguimos verificar que há uma separação entre as matérias-primas renováveis, designadas por nutrientes biológicos e os materiais finitos ou nutrientes técnicos.
Existem características muito claras que distinguem estes dois ciclos:
os nutrientes biológicos, para além de serem renováveis, têm a capacidade de se decomporem quando devolvidos à natureza (exemplos: madeira, papel, cortiça, algodão, etc.);
os nutrientes técnicos, para além de serem finitos, não se decompõem, razão pela qual o seu tempo de vida útil deve ser prolongando até ao limite da sua capacidade (exemplos: alumínio, ferro, plástico, etc.) (imagem 1).
Naturalmente, este modelo só poderá ser efetivamente regenerador e restaurador, se a energia que alimenta todo o processo for uma energia “limpa”, vinda de fontes renováveis.
Adicionalmente, os processos e os produtos devem ser pensados e desenhados, de modo a agilizar e potenciar este modelo.
O design dos produtos deve ser repensado de forma a facilitar a separação de cada um dos seus componentes, para que estes possam ser encaminhados para o ciclo correto, devendo para este efeito ter um design modelar.
A escolha dos materiais é também são de elevada importância: os componentes tóxicos devem ser eliminados, de forma a garantir a segurança e eficácia dos processos e a proteger a saúde pública e o ambiente.
A digitalização dos processos é também relevante, na medida em que promove uma maior eficácia na utilização dos recursos e nas atividades desenvolvidas (imagem 2).
2. Potenciar a utilidade dos produtos, componentes e matérias-primas
Ao analisarmos os processos existentes entre a extração dos recursos e o comprador, podemos verificar que há uma separação entre os produtores de componentes e os produtores de produtos.
Esta separação promove uma uniformização dos componentes, o que facilita a sua continua reintrodução no sistema económico.
Outra questão a ser destacada é que em vez de comercializadores de produtos, temos prestadores de serviços, pois este modelo defende que devem ser favorecidos modelos de negócio que otimizem a utilização dos recursos.
Assim, as características como qualidade, design modelar, durabilidade, fácil reparação, adaptabilidade e circularidade são uma vantagem competitiva, por exemplo, os modelos do “Produto enquanto Serviço” e a “Economia de Partilha”, que abordámos em maior detalhe no nosso e-book.
Há ainda uma distinção entre consumidor e utilizador, pois como o nome indica, os nutrientes biológicos são consumidos (exemplos: bens alimentares, roupas de tecidos de origem natural, papel, etc.) e os nutrientes técnicos são utilizados, podendo esta utilização ser partilhada (exemplos: ferramentas, bicicletas, eletrodomésticos, etc.) (imagem 3).
Como referido no ciclo dos nutrientes técnicos, propõem-se alternativas que têm como objetivo restaurar os stocks de recursos finitos. Neste sentido, existe um conjunto de soluções que permitem prologar o ciclo de vida dos produtos e componentes.
Numa primeira instância, devem ser facilitadas alternativas que permitam a manutenção e a reparação dos produtos, de modo a prologar o seu tempo de vida útil.
Devem também ser favorecidas as soluções que promovam a utilização dos recursos de forma partilhada, potenciando a sua utilidade.
Quando um utilizador já não pretende um determinado produto, devem então existirem canais que permitam a recolha, manutenção e redistribuição do mesmo.
Quando um produto se torna obsoleto, ou já não seja passível de reparação, este deve ser encaminhado de modo a ser desconstruído e os seus componentes aproveitados para a produção de novos produtos.
Quando nenhuma destas soluções é viável, então os recursos devem ser encaminhados para os processos de reciclagem adequados (imagem 4).
Do lado dos nutrientes biológicos, a solução mais próxima do consumidor é a reutilização em cascata, onde os recursos vão sendo reaproveitados ciclicamente para diversos fins, consoante a sua aplicabilidade.
Esta alternativa pode ser aplicada em diversos casos, como é o exemplo dos tecidos de origem natural: uma peça de roupa feita de algodão orgânico, pode ser reaproveitada para produzir novas peças ou acessórios que, por sua vez, podem ser reutilizados para produzir material de isolamento para a construção ou enchimento para almofadas ou pufes. O mesmo se aplica em materiais como a cortiça ou a madeira.
Dos nutrientes biológicos podem ser extraídas as matérias bioquímicas para a produção de biogás. Os nutrientes remanescentes podem ser devolvidos à biosfera de forma segura em forma de composto, regenerando assim os solos e a sua fertilidade e fechando o ciclo dos nutrientes (imagem 5).
Em ambos os ciclos, sempre que possível devem ser favorecidas as alternativas mais próximas do utilizador/consumidor, pois quanto mais próximo deste, menores são os recursos, tempo, dinheiro e pessoas necessárias e maior a integridade e qualidade dos materiais é mantida e respeitada.
Adicionalmente, devem ser aplicadas medidas que prologuem o tempo que cada componente se mantém em cada ciclo, reduzindo assim a necessidade de produzir novos componentes, o que leva uma contínua redução da dependência de recursos “virgens” (imagem 6).
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3. Desenvolver sistemas eficazes que minimizam as externalidades negativas
Com a aplicação contínua, integrada e sistémica deste modelo pelas indústrias e as suas comunidades, consegue-se não só minimizar o volume de recursos que termina em aterro, mas também as externalidades negativas que são geradas com as atividades das indústrias.
Durante muito tempo as organizações estiverem concentradas em fazer menos mal, focando-se na eficiência dos processos. O problema é que fazer menos mal é continuar a fazer mal, mas em menor proporção, situação que não resolve o problema e não contribui para a resolução dos atuais desafios ambientais que temos pela frente, devido ao sistema insustentável que foi aplicado nas últimas décadas.
O foco deve ser sim em fazer bem (eficácia) e em construir sistemas resilientes que servem efetivamente as necessidades das comunidades e contribuem para a sua evolução. Fazer bem passa por gerar valor para todas as partes envolvidas, incluindo as organizações, comunidades, seres vivos e meio ambiente (imagem 7).
Para complementar ainda mais os conhecimentos sobre este tema, recomendamos a leitura do nosso artigo:O Diagrama de Borboleta aplicado ao Setor Agroalimentar (Boas Práticas).
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Autora: Mariana Pinto e Costa (Cofundadora da BeeCircular)
Contacte-nos: hello@beecircular.org
Fontes:
(1) Ellen MacArthur Foundation, Towards The Circular Economy: Economic and business rationale for accelerated transition, EMF, London, 2013
(2) Ellen MacArthur Foundation, Towards The Circular Economy: Accelerating the scale-up across global supply chains, EMF, London, 2014
(3) Ellen MacArthur Foundation and McKinsey Center for Business and Environment, 2015, Growth within: A circular economy vision for a competitive Europe, EMF and McKinsey Center for Business and Environment, Isle of Wight.